sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Um blog lerdo ou o dia em que virei um PIG-Petralha



     Os leitores deste blog já perceberam que, nos últimos tempos, o ritmo de produção de textos deu uma boa diminuída. Felizmente (para mim), recebi algumas mensagens indagando o porquê desse (quase) silêncio e - surpresa, surpresa! - pedindo mais textos.
     Fico feliz, é claro. Sinal de que tem gente que efetivamente lê o que eu escrevo. E que merece uma explicação sobre a queda da produtividade cabideira.
     Fim de ano é um período insano para qualquer professor, e o volume de trabalho (não só acadêmico) dos últimos meses bagunçou minha agenda. Mas seria mentira afirmar que esta foi a única - ou a principal - razão para que este se tornasse - como um leitor chamou numa mensagem que recebi - um "blog lerdo".
     O principal motivo da lerdeza blogueira do Cabide é preguiça. Isso mesmo, preguiça.
     Não é preguiça de escrever, nem de debater. É preguiça de tentar debater o que quer que seja, numa época em que muita gente parece não distinguir debate de embate. Ou mesmo de combate.
     A dialética é sempre deliciosa, mesmo quando infrutífera, mesmo quando o confronto de ideias antagônicas não leva a nenhuma conclusão. A preguiça não vem da contraposição dessas ideias (sem a qual a dialética nem existiria). Mas nos últimos tempos - talvez, de forma mais evidente, neste último ano - a contraposição deu lugar a uma polarização extremada, ideológica e, em última análise, desprovida de conteúdo.
     Talvez isso tenha ocorrido por conta do julgamento do Mensalão. Talvez não, e o Mensalão só tenha evidenciado o que já existia. Mas esse julgamento é emblemático e mostra a que ponto a troca de ideias chegou - ou desceu.
     Foi um julgamento com muitos erros, não só processuais, como de postura por parte dos ministros. Ainda assim, e com todas as (merecidas) críticas que se possam fazer à decisão final, não deixa de ser positivo reconhecer que, ao contrário do que ocorria na era FHC, o STF firmou posição quanto à sua independência em face do Legislativo e do Executivo federais. Mais do que isso, políticos de relevância nacional se viram frente a uma situação inédita no país: a de arcar com as consequências de suas escolhas. E todo o processo transcorreu sem abalos significativos na estabilidade das instituições públicas.
     A rigor, a decisão conseguiu a proeza de não agradar totalmente a ninguém. A ala conservadora da sociedade, embora tenha festejado as condenações, criticou desde o tempo que o processo levou até a brandura das penas. Mais de uma vez ouvi e li expressões da linha "tranca essa corja e joga a chave fora", e coisa muito pior (algumas pessoas não se constrangem em pedir o - literal - linchamento dos "petralhas mensaleiros". Experimentei perguntar a algumas dessas pessoas se elas sabiam o que, exatamente, os tais petralhas tinham feito. As respostas demonstraram uma ignorância inacreditável, sintetizada muitas vezes num patético "roubou"). Em muitas ocasiões tentei argumentar que a prisão dos condenados não traria nenhum bem para a sociedade. Fui imediatamente rotulado de defensor dos corruptos, de "petralha honorário", por assim dizer.
     No sentido oposto, quando afirmei que José Dirceu e José Genoíno - dentre outros - não eram presos políticos, e sim políticos presos (como falar em "presos políticos" cujo partido a que estão filiados controla o governo federal há 10 anos?), ou quando observei que "julgamento de exceção" não era uma expressão adequada para o Mensalão (há uma diferença abismal entre o STF e Nuremberg), fui imediatamente classificado como "reaça" e "PIG honorário".
     Sim, eu consegui essa proeza: sou reaça, sou PIG e sou petralha. Curiosamente, essas classificações, vindas de direções opostas, se basearam num único e mesmo ponto de vista (o meu).
     Paralelamente, os artigos de jornais e revistas, os programas de televisão e da internet, os livros lançados recentemente, enfim, todos os meios possíveis de divulgação de ideias, parecem ter sofrido um achatamento intelectual - não apenas no sentido de se nivelarem por baixo (o que ocorreu), mas também no sentido de ficarem chatos. Críticas do nível de Reinaldo Azevedo ou Lobão são tão intelectualmente rasteiras (e monótonas) quanto a santificação de Dirceu e Genoíno - como se um passado louvável de luta e dignidade conferisse carta branca para a desonestidade no presente. Num artigo recente, li que "Lula fez o que tinha de fazer para tirar milhões da miséria", logo, tudo estaria automaticamente justificado. Como se questões éticas (para não mencionar as legais) pudessem ser solucionadas de forma tão simplória. Recentemente, circulou nas redes sociais um texto acusando Lobão de ter causado o suicídio de seus pais. Lobão merece inúmeras críticas, mas explorar de forma tão baixa uma tragédia pessoal para atacar as ideias de quem quer que seja, por mais equivocadas que sejam, é de uma torpeza indescritível.
     Então, diante do excesso de trabalho, da despencada do nível do debate e da aparentemente infindável sede de sangue das duas torcidas organizadas (progressistas x reacionários), comecei a ficar com preguiça de discutir certos assuntos. Numa fórmula simples:
     
    


      Mas, como toda preguiça, daqui a pouco essa também passa.
     Qualquer hora dessas, o blog deixa de ser lerdo e volta ao ritmo de antigamente.